sexta-feira, 5 de junho de 2009

O frio, este incompreendido

Há os que gostam. Acham bonito o visual das mulheres, mais elegantes, com casacos e cachecois. O charme dos cafés, restaurantes e bares, na companhia de amigos, amores, vinhos, sopas, caldos e bebidas quentes. As festas juninas, impagáveis em sua inocência longínqua, de fogueiras, quentões e o irremediável pinhão, fruta seca que traz no seu sabor uma certa tradução do modo de ser das pessoas do Brasil meridional.

Há os que detestam. Sonham com o ideal dos cartões postais de recantos tropicais, que vendem o país de sol a sol (?). Reconhecem-se no jeito irreverente das pessoas em trajes sumários, pelas praias, rios, botecos festivos de samba e cerveja. A estes, meros 15 graus já são motivo de queixas constantes.

O frio, este que apresenta já esta semana seu cartão de visitas. Inevitável aos que o detestam. Bem vindo aos que o veem como o necessário natural. O pouco frio que ainda faz significa que o planeta está longe de inundar-se pelas geleiras derretidas, invadido por mares furiosos, do aquecimento global.

Longe dos que creem no frio como nosso equivalente europeu, vejo no frio apenas o que ele mesmo representa: tempo frio. Sem visões poéticas, por favor. Frio é frio. E acabou.

Sou dos que gostam de dizer que já que estamos nessa, devemos nos comportar como as plantas e os bichos. Eles não reclamam, apenas vão pelo que manda a natureza. Prezo a já citada elegância, o conforto dos prazeres dionisíacos adequados às baixas temperaturas, de lugares fechados e aquecidos.

Assim como no calor, me dedico apraz a observar os umbigos de fora das meninas, em meus chinelos e bermudas rodando pelas calçadas, botecos ao ar livre, samba, cerveja, e aos prazeres dionisíacos. Sempre ele. Dionísio não escolhe estação.

Ademais, se você mora aqui pelos paralelos 30 ou 40, evidente que vai se deparar com o frio de qualquer jeito, ao menos alguns meses do ano. Então, invés de ficar enchendo a paciência, sua e dos outros, tente tirar o melhor desta estação tão própria do lugar onde você vive.

Certo que há lugares feito Curitiba, onde os homens nunca pensaram em calefação e a maioria das casas não conta com lareira. Tenho viva a lembrança ainda de banheiros construídos em varandas para o lado de fora da casa. Um inferno nas manhãs de zero grau, nos preparos para uma aula de natação às seis da manhã no Colégio Estadual, onde a piscina é ao ar livre, e pelo menos na minha época não contava com qualquer aquecimento. Reclamei? Não. Aprendi a nadar.

Na verdade, nunca confiei muito nas pessoas que não gostam e reclamam do frio. Tem gente que reclama de tudo, mesmo. Também não confio nos que exaltam o frio como patrimônio exclusivo, em detrimento do restante do país, dando crédito a ele pelo melhor desenvolvimento econômico do sul. Isso não passa de estupidez.

Na verdade, com o tempo (é este o assunto, não?), aprendi a não confiar em quase ninguém. Muito especialmente nas previsões feitas pelas moças bonitas frente a um cromaqui repleto de nuvens, na tevê. A mulher do tempo sempre me soa algo proustiano.

Mas com tanto charme, por que acreditar nelas? Leve o casaco, e pronto.

Folha de Londrina (05/06/2009)


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2 comentários:

  1. saudades do friozinho curitibano... aqui o calor tá matando minhas petúnias!

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  2. ESFRIAMENTO GLOBAL

    Ai que bãum.....rs

    A DICA BOUA:
    AJUDA,
    Pois AutoAjuda seria só pra mim, né...

    °Coberta de lã por baixo
    Mata a Pau.............

    °Aquecer o BWC 15 minutos antes
    e só se despir lá dentro. 10.

    Tô nem aííí....Tô nem aííí....

    Boua Flavio,
    Vamos Mudar de Conversa no Elevador...
    ( Como tá frio, não ?!!! )

    Quanto suas Denúncias da Contravenção...Bem...

    Falei que Roubo de Cultura não é crime,
    mas solicito urgentemente
    Incluir A DANADA DA CACHAÇA...

    rs rs rs
    Bons Abraços

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