quarta-feira, 28 de setembro de 2011

R.I.P. - Redson do Cólera



Adeus, brother. Obrigado por tudo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Minha Nossa

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Uma casa muito engraçada





Fotos: Sandra Loest




Domingo, feirinha em tarde de sol e céu azul, depois de pastel, água de coco, um livro do Anthony Burgess comprado em sebo. Eu e a moça bonita demos de não ter o que fazer. Daí lembrei que umas pessoas andaram me escrevendo pedindo livros meus.


Publiquei uns títulos de poesia há algum tempo. Nada demais. Também não tenho um exemplar que seja. Doei boa quantidade de exemplares de um desses livros pra fundação cultural da cidade. Faz mais de dez anos, certeza. Lembrei de onde eles poderiam estar, e pensei em passar lá conferir, pra eu comunicar a essas pessoas que me escreveram. Era um setor que funcionava todos os dias da semana, um espaço dentro do Largo da Ordem, uma livraria/loja que vendia livros e discos produzidos no Paraná, entre outros badulaques. Uma grande maioria desse material era realizada através da Lei de Incentivo à Cultura, em seus mais diversos formatos. Era a livraria Dario Velloso, mantida pela Fundação Cultural de Curitiba, onde se podia comprar boa parte da arte feita aqui. Um espaço que considerei absolutamente sensacional à época. Em tempo: este livro meu que eu procurava, de 1997, foi lançado por uma editora underground, não foi feito por lei de incentivo alguma. Tudo bem.


Debaixo do sol ardente, fui tomado por lembranças muito boas da velha Fundação Cultural, à qual colaborei assiduamente ao longo de muitos anos, muitas vezes muito bem remunerado, outras a troco do próprio gosto da propriedade que tudo aquilo provocava, algo que propriamente nunca se desfez.


A sede administrativa da FCC agora é lá no Rebouças, numa antiga fábrica, um lugar histórico. Li dia desses que venderam o terreno pra Igreja Universal. Desgraça pouca é bobagem. Não era o caso, naquela hora.
Deixando o devaneio, voltando à real, vá lá que a realidade vale alguma coisa, andamos até onde antes funcionava a livraria, um velho casarão na parte baixa do Largo, e nada. Perguntamos a alguns funcionários em outros setores mantidos pela FCC, mais alguns passantes, nada. Ninguém conhecia a Dario Velloso.


Chegamos na velha sede da FCC, onde também funcionou a livraria em determinada época, na praça Garibaldi, mais acima, a vulga praça do “Cavalo Babão”, em torno de 13h30 de uma tarde de domingo, vejam. Um Largo lotado de turistas e gente de toda sorte e destino. Ali, demos com a imagem grotesca das fotos acima. Perguntamos num posto de informação ao turista, em uma entrada lateral à casa, também mantido pela Prefeitura, sobre “que fim levou a livraria?”. Resposta: “não é mais livraria. É um espaço para leitura, com algumas atividades, etc etc, etc.”. Perguntei: “mas, então se eu quiser agora comprar livros e discos feitos por artistas daqui, aonde eu vou?”. O funcionário disse que não sabia.


Tá certo. O cidadão curitibano, médio ou não, que gosta de consumir cultura está sem a Pedreira, sem o Perhappiness, sem quatro dos cinco cinemas públicos de outrora, sem o Cultural do Portão, sem um monte de outras praças de arte bacanas. Agora, sem a pequena e simpática livraria que vendia coisas do Paraná.

Eu gostaria muito de saber o que os responsáveis pela política cultural da cidade fazem com nossos impostos. Porque o que eles têm na cabeça certamente é caso pra outro setor municipal, o que cuida do esgoto. Pois, vá lá que um cinema é caro, uma pedreira é cara, um Perhappiness é muito caro. Mas uma lojinha simpática não custa nada além de dois funcionários, um guardinha e meia dúzia de estagiários para ordenar todo o acervo – depois apenas um daria conta. Pior: tudo isso a que me referi (cinemas, pedreira, etc.) existia. Agora, ou não existe mais ou está fechado. Não é algo que precisaríamos inventar, mas que nos foi tirado. Que conversa é essa? Mais um pouco eles vão remover a feirinha do Largo da Ordem, sob pretexto de que atrapalha o trânsito, ou a missa e coisa e tal. Não duvido.

Olhando a fachada do antigo prédio, pichada, deu na gente aquilo que o povo chama de “ruim”. A nossa antiga “casa de cultura” estava fechada, às 13h30 de um domingo, e a livraria virou “espaço de leitura”. Sei. Acho que isso doeu mais que o fato de a casa estar depredada por pichação.


Depois, indignados, fomos tomar uma cerveja num bar que dá vista pro local, onde encontramos a Sandra Loest, que bateu estas fotos. Um amigo nosso, músico, que estava por ali, ao ouvir nossa conversa a respeito, contou: “puxa vida, lá no Conservatório (de MPB, também da FCC), tá entupido de discos de artistas feitos pela Lei. Tá tudo entulhando lá. Não tem nem onde colocar...”.


Esqueci meus livros e lembrei de uns discos que cometi também. Em Lei de Incentivo, uma quantia é sempre doada à FCC, por lei. A ideia é que seja este material encaminhado a bibliotecas, deixado a disposição da população. Entulhado, pois bem? Muito bonito.

Enfim. Depois esqueci de novo. Vazio sem tamanho. Àquela altura a casa já soava engraçada. Rir pra não chorar. A pichação sobre as placas de mármore onde está escrito “Secretaria Municipal de Cultura” e “Fundação Cultural de Curitiba” já soava uma maquiagem de palhaço torto, ou de puta velha. Velha. Sem história. Apenas velha. Sem respeito. De tão estúpida, muito engraçada. Feito uma Geni a quem a turba atira pedras.


Dei um gole bem forte nessa cerveja vagabunda que a gente bebe aqui no Brasil. Desceu amarga. As palavras que passaram em minha cabeça não são passíveis de publicação. Mas a lembrança mais aproximada que tenho, foi de uma vontade imensa de agir contra a burrice e a incompetência adotando as táticas pouco ortodoxas de uns personagens de outro livro do Anthony Burgess. Aqueles meninos simpáticos da primeira parte de Laranja Mecânica. Lembram?


Pouco depois, descubro que ao fim da rodada deste belo domingo, meu time se encaminha a passos largos para a segunda divisão. Ainda bem que a moça é bonita.



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