Bárbara Kirchner
Cai a noite em dezembro e Curitiba é uma redoma, um copo vazio emborcado. Céu vermelho às 8 horas do horário de verão e clima aprazível. O céu de um azul turvo na abóboda enquanto ouço cigarras e pianos. Bateu agora uma brisa fresca, logo depois da condução. Na retina um filme leve matinal. Ébria de risadas e humanidades. Pertencer a este lugar é tal como ser pinheiro. Pregar-se ao solo num mergulho profundo e sem curvas, sempre reto, buscando o centro. Centros de homens que nasceram assimétricos. Ser pinheiro neste copo é estar fadado ao fim pela impossibilidade do crescimento destas árvores em outros solos Perde-se o curitibano. Passa a apátrida porque não se reconhece mais ao caminhar pelos saudosos paralelepípedos quando as suas raízes obrigam-se à direção de outros solos que não o centro do seu.
Curitiba é um copo vazio cheio de frio.
Feito de vento expirado das almas como as do Municipal enterradas.
Amalgamado cinza entristecedor esmaecido nos viventes neste sítio jazentes.
É a beleza de ser introspecto, passivamente sofrido e irritantemente orgulhoso dos dias de geada ou das estações misturadas inteiras em um único dia. É saber-se livre apenas quando em terras alheias, marcando o curitibanear, aquele leminskiado; restando, todavia, escondido, como o Dalton, quando entre os convivas locais. Pisar aqui a cada retorno implica um borbulhar de infinita e sádica melancolia. Um deprimir pré-sentido. É encontrar todos perdidos. É saber-se preso e com um sorriso masoquista, dormir feliz.
Bárbara Kirchner é advogada, cantora e compositora. Este mini-conto saiu no livro "Curitiba - Melhores Defeitos. Piores Qualidades", de Dante Mendonça.
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terça-feira, 16 de junho de 2009
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