quinta-feira, 25 de março de 2010

Paranoid

Eles adoravam satanás. Iam tocar. Death metal extremo. Voltavam de uma turnê pelo leste europeu. Eu a trabalho, tinha que entrevistá-los. Ela veio me buscar e rodeava por ali. Equipe de filmagem, pouca gente ainda, passagem de som e luz.

Umas moças de preto tatuadas até o pescoço dependuravam um banner enorme na porta de entrada do local. Uma estrela de cinco pontas. E aquela logomarca ilegível afeita a bandas do gênero.

- Ei, tá de ponta cabeça! – ela, querendo ajudar.

- É assim mesmo! – respondeu uma das metaleiras, ar de pouco caso.

- É?

- É! – e saíram, deixando a moça olhando a feição do cramulhão desenhado ao fundo da estrela inversa.

Ela não entendeu. Também não fez ar de cruz-credo. Estranhou. Acho que foi ali, naquele momento, enquanto me ria da ingenuidade dela, que aconteceu. Algo saltou no meu peito. Uns olhos azuis de anjo que nunca me pareceram tão angelicais. Dizer que aquilo foi uma das coisas mais bonitas que já vi na vida pode soar estranho. Mas foi. A moça bonita-além-da-conta tentando ajudar os satanistas. Foi sim.

A entrevista foi boa. Anticristos, nada demais. Gente que não gosta da sociedade cristã e ouve música alta. Muito alta. Só isso. Barulheira dos infernos, eu não quis ficar. Fomos embora, deixando os filhotes de Rosemary pra trás.

Algumas perguntas sobre o assunto, já no carro. Respondia atencioso, enquanto apreciava o asfalto molhado de chuva por detrás do limpador de parabrisa. O barulhinho flapt-flupt que faziam se confundia com as batidas do meu coração.

Tarde demais. Neste exato instante, eu já estava completamente apaixonado.

Flapt-flupt, flapt-flupt...

...

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