Sandro Moser
Nada tão lindo quanto uma mulher que sabe comer. Sem reguladores de apetite, sem hipofagi. Mastiga com gosto, ingere com classe. O sanduíche de mortadela. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes e os sonhos. Os beijos? Cometas percorrendo o céu da boca. Fatias do embutido despencam para além das bandas do pão.
Ela pede uma caipirinha, você pede mais um chope escuro. Agora e para sempre, tudo um grande sábado, nestas esquinas da vida margarida - amarga vida pra você gostar de mim.E depois: me dê a mão vamos sair pra ver o sol? “Não, vamos ver o comércio”, ah, o sotaque elicorante. Claro que vamos. Pra onde você quiser, baby.
Deixa só eu pedir outro chope aqui pro Ceará. Qual o peixe mais bobo que existe no fundo do mar? Qual é o povo que vive do pastel do peixe mais bobo que existe no fundo do mar? Daqui a pouco a gente vai. Pro bacalhau, pra Portugal e pra Noruega. Pra que a pressa? Eu faço samba e amor até mais tarde. Uma hora a gente acaba indo mesmo. Pro aglomero da solidão.
Ademais, esta cidade precisa ser amada como uma esposa. Não é mulher pra de cinco às sete. É mulher full-time. E nós, já estamos aqui. Eu, você nós dois aqui neste mercado a luz das clarabóias. Vitrais russos, cenas da lida do café. O sol precisa escapar das nuvens, das paisagens do vidro para só então explodir por sobre o vidro de pimenta baiana. Tem um japonês trás de mim. Capaz de cair uma garoa. Eu peço mais pro ceará, com a benção do meu orixá...
O clima engana. A vida é grana e é sempre lindo andar por aqui. Todo mundo amando com ódio. Mais dois chopes e umas sardinhas fritas. Graças a Deus. Entre você e a Angélica minha consolação Augusta. Eu me lembro muito bem. _ Mas o que você quer lá querida, se aqui nos temos de tudo? Lá fora é frio e perigoso. Os pecadores invadiram o centro na cidade mercenária. Barganham suas virtudes, de rouge, crack, batom barato. Todos os não se agitam. Não quero mais ver esta gente feia.
A espessa espuma do chope escuro e o menino grande que não para de falar. A gente se odeia com todo amor. Amor de crédito e débito. Da força da grana que compra coisas belas no cartão. Vamos comer um torresmo. Talvez alguma coisa aconteça em nossos corações.
Na base do pão, vinho e azeite. Assim fez-se o ocidente. Mas o homem precisa de mais. E saiu a navegar, pois foi preciso. Eu preciso que você fique comigo. Precisamos de pimentas, vitrais, olivas. Cervejas e aguardentes. Peixe e camarão que é bom pro pensamento.
Da japonesa loura. Da nordestina moura. Sardinhas, mandiocas, jasmins, atuns coqueiros, fontes murmurantes. Um suave azulejo e cinza. E o delta do Mekong que encontra o Tietê, num lindo tempurá fritado no dendê. Pois esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um mercado municipal.
Sandro Moser é escritor e meu brother de arquibancada, entendido das coisas da vida e da malandragem, é do samba e do balacobaco. Este texto foi escrito com a técnica sórdida da subliteratura chamada bem-bolado. Frases alheias pervertidas e distribuídas sob a forma da prosa mais vagabunda. Quer dizer: o certo é nunca explicar porra nenhuma.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Premeditando o breque
Cena de amor punk-brega à luz das clarabóias imortais
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Ademais,
ResponderExcluiresta cidade
precisa ser amada como uma esposa.
Não é mulher pra de cinco às sete.
Prazer em Conhecê-lo.
Se assim for mais caro, Eu Pago !
Abrçs
PITA
Premeditando o Breque é uma das bandas paulistanas mais legais que conheço, ao lado do Língua de Trapo e Joelho de Porco (do qual fazia parte Zé Rodrix). Este texto parece ser composto de alguns trechos de músicas... eu reconheço algumas. Muito legal! Bjos!
ResponderExcluirÉ isso aí, Xanda. O Moser é o Guti, o Polaco, O Russo. Você o conhece.
ResponderExcluirGrande Pita! Tamo na área.