quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fellini, banda cabeça que faz a cabeça. Ou, a verdadeira banda cabeça

Com Thomas Pappon, Londres, Dezembro 2008

Nos anos oitenta do século passado, parecia que tudo estava encaminhado. Não consigo datar mais nada depois da segunda metade dessa década pela qual atravessei minha adolescência toda, e parte da juventude.

Se não tínhamos a internet ainda, os computadores já surgiam como elementos inevitáveis da nossa vida. O Pacman, joguinho célebre dos primórdios do videogame, meio que anunciava o atropelamento avassalador que a tecnologia iria promover no dia a dia.

Samplers, sintetizadores, baterias eletrônicas já davam as caras descaradamente, para o pavor dos puristas. O rock era o que tocava nas rádios brasileiras, e funcionava como um libelo contra tudo que o antecedeu. Tudo era pós. Pós punk, pós moderno, pós rock. Os pós eram bons. Já tinha muita gente se afundando nos pós, e na pós liberdade.

Foi quando, lá pelos meus 20 anos, me deparei com um vinil do Fellini. Eu seria hipócrita de dizer que já não saboreava elementos de vanguarda, como havia sido com Itamar, Arrigo e Paulo Barnabé. Seria burro se não vislumbrasse o multi-culturalismo que Leminski detectava a cada ensaio ou poema, ou tirada de mesa de bar. Ou Augusto de Campos. Ou Arnaldo Antunes, antena de todos os concretos à época.

E não foi diferente quanto a fazer a diferença, ouvir Fellini. Uma banda de dois caras, Cadão Volpato e Thomas Pappon. O primeiro disco, O Adeus de Fellini (1985), ainda com formato tradicional de banda. Depois, Fellini Só Vive Duas Vezes (1986), gravado apenas por Cadão (voz) e Thomas num estúdio caseiro. Ainda Três Lugares Diferentes (87) e Amor Louco (89). Este, obra prima.

Thomas foi viver na Alemanha e depois Londres, onde hoje trabalha como jornalista na BBC Brasil. Cadão também viveu por Londres, esteve em Amsterdam até recentemente e hoje escreve para o Valor Econômico, sobre cultura.

Encontrei o Thomas por lá, na festa de aniversário do Renato Larini, que me hospedava em agradável temporada de férias e trabalho, já que filmamos uns clipes, com direção do Renato, e eu ainda aproveitei pra escrever pra Folha algumas crônicas, umas que já saíram e outras que ainda vão sair. Férias e trabalho se confundem quando a gente faz o que gosta, é isso. O Renato é marido da Néli Pereira, minha amiga que trabalha com o Thomas na BBC. Mundo pequeno e bacana, este nosso.

Foi engraçado. Era um sábado e minha última noite em Londres, e eu tinha acabado de voltar da Abbey Road, onde fui visitar o estúdio de outros caras que, digamos, também fizeram muito a minha cabeça. Na mesma tarde, estive também em uma exposição pra lá de badalada do Andy Warhol, na Hayward Gallery. Tudo muito sensacional em um dia só.

Tomamos todas e conversamos muito sobre futebol (o Thomas é palmeirense), música, o show do Fellini em 1987 no Paiol, Curitiba, música em Curitiba, Móoca, Sampa e cerveja. Cerveja na Inglaterra é assunto a toda hora. Acho que tomei muitas Guiness e o apartamento dos meus amigos já tinha virado uma instalação de loucos. Marcelinho Borges e Ricardinho presentes, mais uma pá de gente. Um porre no melhor sentido da palavra.

Enfim, conversamos também sobre a volta do Fellini para alguns shows no Brasil. Um deles, em Curitiba, promovido pelos amigos Adri e Ivan, no Rock de Inverno 7. Dia 25 de julho. John Bull Music Hall. Combinamos de tomar todas de novo. Não percam. Depois não digam que não avisei.

De manhã, no aeroporto de Heathrow, rumo a Roma, eu ainda estava bêbado.
...

3 comentários:

  1. Oi Flávio, vc poderia passar o email da banda. queria mto fazer uma materia com eles, saber deste retorno e quem sabe conseguir traze-los pra Belém!!!!! aqui tem uma galera dos anos 80 que nos os esquece jamais!

    abraços

    Luciana (http://holofotevirtual.blogspot.com), direto da Cidade das Mangueiras!

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