terça-feira, 11 de maio de 2010

Sem poesia, vamos lá

Que faltou poesia, é fato. Mas não podemos dizer que faltou coerência ao homem que ocupa o cargo de mais importância do país, depois do presidente.

A ausência de Paulo Henrique Ganso é crime de lesa-futebol, como disse o Juca Kfouri. Mas eu diria que foi o tempo que selou sua ausência. Não deu tempo. Eu mesmo, andei olhando a lista de maiores discos da música de todos o tempos. Há quase tantos álbuns dos Byrds quanto dos Beatles. Nunca ouvi um disco inteiro dos Byrds. Ignorância? Sim, mas não burrice. Acho que não tive tempo. Dunga não teve tempo de convocar Paulo Henrique. O balé do Ganso surgiu a nossos olhos em uma fase nula para a seleção, longe das convocações para torneios a serem disputados. E Dunga, dentro da sua coerência, afirma: se não jogou com ele, não vai, e pronto.

Quando me refiro à ausência de poesia, quero dizer: não há craques entre os 23 convocados. Nenhum. Há grandes jogadores, mas nenhum deles está naquela fase de fazer brilhar nossos olhos, através do brilho dos seus próprios. Robinho e Nilmar, vá lá. Kaká não é craque. É apenas um grande jogador.

Isso não quer dizer que vamos perder por isso. Poderíamos perder ou ganhar com todos os craques que queríamos ver jogando. Não quer dizer a rigor, nada. Quer dizer apenas que não vamos ter o imprevisível, a magia. Neste mundaréu de cabeças-de-área o que nos resta é o previsível.

Eu já gostei muito mais da seleção. Sou do tempo em que quando o Brasil perdia a gente ficava triste. Hoje, graças ao mar de previsibilidades já costumeiras, a gente toda fica com raiva e procurando culpados.

De qualquer maneira, continuo achando que a seleção brasileira ainda é o melhor jeito de se fazer 200 milhões de pessoas absolutamente felizes e enlouquecidas. Mais alguns bilhões de seres pelo mundo encantados. Cores e originalidade, carnaval e muita música. Festa. Daqui a um mês, este país mais bacana do mundo vai estar neste clima novamente. Pobres e ricos, nosso maior problema, serão todos um só, por um mês. Um mês sem pensar em porcaria nenhuma. Essas coisas da vida, da existência, do trabalho, do dinheiro. Que nada. Todos os problemas da humanidade estarão dentro das quatro linhas e nos mais diversos copos dessa nossa cerveja vagabunda, entre goles, abraços e beijos. Delícia.

Agora vamos torcer para que a ausência do Ganso não decrete nosso canto do cisne, e que uma eventual entrada do Grafite, que veio na ponta do lápis, renda grandes bolas nas canetas dos adversários. Vai ser difícil. Mas para os outros será muito mais.

Sem poesia, eu disse. Pode ser exagero da minha parte. Sem dúvida com menos, bem menos poesia que gostaríamos. Este cronista é mesmo muito chato. Simples assim. Vamos torcer. Divirtam-se.

...

3 comentários:

  1. Além da falta do Ganso, cê não acha que o Ronaldinho Gaúcho também colabora para o fim da poesia no futebol brasileiro?
    E pra piorar, ai, "eles" têm o Messi...

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  2. Eu acho que para ter poesia mesmo tinha que chamar o Ronaldo de uma vez. Seria uma epopéia clássica ou um tango de uma vez. O Dunga tem este jeito estúpido de ser, isso a gente sabe. Mas, cá entre nós, Flávio, você chamaria 20 crentes para um mesmo time? Torcer pelo Robinho, com a amarelinha, vai ser obrigação patriótica. Mas, até agora, ele me parece um caráter da mesma espécie de Marcelinho Carioca... Espero ter que morder a língua, sinceramente, mas...

    Putz, só consegui postar com a ID do meu filho, mas é o Beco mesmo!

    Roebrto Prado

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  3. hahaha... pois é, galera... Béco! Gi! sim, ronaldinho também faz falta. olha, faz tempo que nao vejo a gente viajar pra uma copa sem craques. assim fica difícil, mesmo... sei lá... mas a gente torce, né? ;)

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