quarta-feira, 24 de junho de 2009

Clausura

Um roteiro dos tempos do curso de cinema

Interior noite. Ao som de um despertador, Danilo acorda assustado. Dá conta da realidade. Sorri aliviado. Acende um cigarro, mirando o teto. Põe-se a refletir brevemente.

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Exterior dia. A cena vai para uma panorâmica do aeroporto Afonso Pena, nos arredores de Curitiba. Em aproximação, vão surgindo detalhes minuciosos de uma mulher, bastante composta, que desembarca vinda do exterior. Desce as escadas da aeronave, olha ao redor, vai em busca de suas bagagens. Toma um táxi, que a leva para casa.

Panorâmica da Avenida das Torres, skyline do centro da cidade, que se apresenta imponente, dando um tom bastante urbano a toda fotografia.

Teresa é deixada em uma rica casa no Jardim Social. Recolhe suas malas e vai à porta da mansão. É recebida por Maria. A morena (muito sensual) olha para a patroa de forma lasciva, dando pouco a entender. Cumprimentos rápidos, Maria leva a bagagem enquanto Teresa vai ao lavabo. Um longo travelling segue-se então, ao som de uma trilha sonora tensa e inebriante, revelando detalhes da portentosa casa, e da vida de seus habitantes. Uma ampulheta chama atenção. A câmera passeia por troféus de caça e golfe, tabuleiros de xadrez e gamão, esculturas, uma pintura a óleo de Danilo e Teresa, da época de recém-casados, fotos das crianças, o fogo da lareira, o piano, até Teresa saindo do lavabo. A câmera a persegue pelas escadas rumo ao quarto do casal.

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Interior dia. Ao entrar, Teresa depara-se com uma cena surpreendente. Danilo está em uma jaula, uma espécie de gaiola, defronte à cama de casal, emendada ao banheiro da suíte. Danilo está barbudo, com um pijama velho, em estado bastante precário. Dentro da cela, Danilo tem uma mesa, uma cadeira, um colchonete e uma máquina de escrever.

Teresa não acredita. Revolta-se. Ele, mudo. Ela vai ao seu encontro agressiva, perguntando o que diabos significava tudo aquilo.

Segue-se um diálogo bastante pesado, encoberto pela trilha sonora. Arrependimento, culpa, crises conjugais, amantes, filhos no exterior, detalhes de um longo casamento de vinte anos. Mágoa. Muita mágoa.

Teresa, em um rompante de fúria, atira um relógio despertador na parede. A câmera capta tudo, em detalhes fractais. Despertador quebrado ao chão. Sempre o tempo corroendo a vida de toda gente.

Segue um silêncio. Olhares. Danilo mantém-se irônico, tentando explicar que sua vida acabou, que seu casamento é uma prisão. Que prefere viver recluso, qual se encontra, a continuar com tudo aquilo. Teresa dá de costas, pensativa, acendendo um cigarro de filtro branco longo peculiar a mulheres quarentonas. Close em seu semblante. Teresa é uma dessas mulheres irascíveis, coléricas. Ela é bonita e nervosa. Muito bonita. Muito nervosa. Danilo é desses caras bonachões, boêmios. Engraçado, mas melancólico. Teresa é David Lynch. Danilo é Billie Wilder.

De repente, o relógio rompe o silêncio, em alarme, girando quebrado no chão do quarto. Maria adentra o local (Maria é Rogério Sganzerla).

- Dona Teresa, seu tempo acabou. Retire-se por favor....

A frase da empregada ecoa: “seu tempo acabou, por favor, retire-se...”, assim por diante, repetidamente, ao som da mesma trilha sonora tensa.

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Interior noite. Corte para Danilo, repetindo a cena inicial, acordando, e depois sorrindo. Acende um cigarro, olhando para o teto. Agora, Danilo é Buñuel.

Sobem os créditos.

Fim.

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