segunda-feira, 14 de março de 2011

O THC da canção


“Canções são aquilo que eu escuto, quase em exclusão de todo o resto… (...).
E quase sempre tudo o que eu tenho a dizer sobre tais canções é que eu as amo,
e quero cantar junto quando as ouço, e forçar outras pessoas a escutá-las,
e ignorar quando outras pessoas não gostam dessas músicas tanto quanto eu”.
(Nick Hornby)

A vida não tem trilha sonora. A princípio, não mesmo. Convivemos com ruídos produzidos pelo homem ou pela natureza. A partir destes, o homem criou a música. E depois, deu-se a cantar. Desde que me conheço por gente, sou dado a cantar. É certo que quase todo mundo canta. De uns tempos pra cá, dei de perguntar pra mim mesmo: mas por que diabos cantamos? Não custa apenas dizer, via fala? Tem que cantar?

Há uma coisa em comum entre sujeitos tão díspares quanto Bob Dylan, Lou Reed, John Lennon, Chico Buarque, Noel Rosa, Zezé de Camargo e Roberto Carlos: eles produzem canções. São dominados pelo mesmo princípio ativo. Mal comparando, uma espécie de THC, o tetra-hidro-cannabiol da marijuana, ou maconha.

Como na erva supracitada da qual é feito o tal “cigarrinho de artista”, há canções que nos fazem mudar de vida, pegar a estrada. Outras nos encantam, incomodam, positiva ou negativamente. De protesto, de louvação, de amor, as de cotidiano, entre muitas. E há as “palhas” (erva ruim, na gíria maconheira). Mas, o que mesmo as define?

Assistindo ao show de Odair José este fim de semana, ao ar livre, em frente ao Torto Bar, ali no São Francisco, é que me veio à mente tudo isso. Odair domina o código genético da canção.

Analisando os campos harmônicos e melódicos pelos quais traça suas baladas não raro sangrentas, dá pra dizer sem medo de errar que o formato das canções de Odair José é o mais simples existente. No meio do mar de sofisticações e simplicidades para qual o gênero canção tomou seus mais diversos rumos, o que chamamos popular é o mais simples de todos. E entre os populares, o mais simples ainda é o que faz Odair.

Porque ele foi jogado no limbo daquilo que passou a ser chamado de brega, lá pelos idos da década de 1970, é explicável até certo ponto. Muitos já escreveram sobre isso. E, vamos e venhamos, o mercado fonográfico já levou ao limbo muita gente boa, e de ares considerados muito mais sofisticados pela mesma classe que dispensou um Odair José.

Vai aqui um exemplo carregado de erudição e vanguarda: Tom Zé. Mais um José. Mas este quase sumiu mesmo, viraria Zé Ninguém, não fosse o milagre de alguns de seus discos antigos chegarem às mãos de David Byrne, em 1992. Graças a isso, e podemos dizer que somente a isso, hoje o mundo reverencia Tom Zé. Precisou vir um cara do Talking Heads dizer que ele era gênio pra todo mundo perceber.

É certo também, no caso de Odair, que isso não implicou em lá grande coisa para sua carreira. Afinal, ele não foi esquecido, nunca deixou de ter certo reconhecimento. Graças a uma canção de Rita Lee e Paulo Coelho, foi considerado o “terror das empregadas”. Vejam só o preconceito, já que é sabido de muito que o público dele não é predominantemente formado pelas domésticas. Não mesmo.

Apenas ele fez uma música de certo sucesso que falava do assunto, da paixão de um homem por uma serviçal da classe média alta. Assim como fez música para putas e trabalhadores. Quer dizer, no fim das contas o universo que gere as canções “bregas” de Odair José é o mesmo dos cultuados livros de Bukowski.

Enfim, ele sempre teve público. Apenas, e mais uma vez, este tornou à classe média “pensante”. Mas, tenham certeza, não fosse a qualidade de suas canções, não fosse ele um hitmaker de primeira linha, não teria este reconhecimento ora alcançado junto aos universitários novamente. Em verdade, não novamente, mas pela primeira vez e de forma contínua desde os fins dos anos de 1990, quando começou um resgate de sua obra. A princípio, pelo “exótico” e “irônico” (virou algo super engraçadinho fazer papel de brega, em festas universitárias, as festas propositadamente cafonas que até hoje estão aí), mas logo em seguida pelo que tem de qualidade e poder transformador, inegáveis.

Enfim, estou aqui apenas pra dizer que o show foi muito bom. Inesquecível. Ele é realmente um mestre. Vida longa aos fazedores de canções por todo o mundo. Goste dos seus. Encontre-os, pois eles estão por aí. Sempre vai ter um que é o seu número. Emissores deste princípio ativo que nos contamina e inebria, e produz alegria e tristeza. Que às vezes faz dançar, outras dormir. E sempre, mal ou bem, faz pensar. E alivia.

Odair José é o THC da canção.

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sábado, 5 de março de 2011

Saiu uma palavra oficial sobre a Rádio Educativa. Estamos aí

Leiam aqui.

Esperamos que tudo dê certo e desejo sorte ao pessoal envolvido.

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Educativa abandona a música paranaense

Coluna Acordes Locais, na Gazeta. Leiam clicando aqui.

Lamentável, por enquanto.

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